quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Resenha do livro Escrevendo pela nova ortografia, de José Carlos de Azeredo

Resenha do livro Escrevendo pela nova ortografia, de José Carlos de Azeredo.

A proposta desse livro é apresentar ao leitor questões do Novo Acordo Ortográfico de 1990 firmado entre Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Brasil. Terá início em 2009 para documentos oficiais e para a mídia. Sua implantação no ensino público será em 2010, e até 2012 para todas as séries.
A idéia de se fazer uma ortografia unificada teve início em 1986, no Rio de Janeiro, onde aconteceu o Encontro para a Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, já que o português era o único idioma do lado ocidental a ter duas grafias. Desse Encontro gerou-se um documento contendo resoluções essenciais para o projeto de unificação da ortografia, com a aprovação da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Letras. Azeredo, pensador da filosofia da língua portuguesa e autor de gramáticas, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e ex-professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro vem através dessa publicação esclarecer futuras dúvidas daqueles que fazem uso da escrita em língua portuguesa, de maneira simples, clara e objetiva. O texto do livro resenhado traz um resumo simplificado do Acordo, de uma forma sucinta e prática para que os leitores brasileiros possam consultá-lo sem dificuldades, observando as alterações introduzidas pelas novas regras. Traz também o texto original para aqueles que desejarem conhecer na sua totalidade o Acordo de 1990. Um artifício bastante contundente é o uso de um quadro em que os leitores poderão depreender como era a ortografia antes e depois do Acordo. Nesse quadro há um comentário em que se lê: mantido, alterado, dupla ortografia ou novo, conforme a especificidade do caso.
O livro presenteia o leitor com fatos extras que justificam a evolução, o prestígio e a importância da escrita do português diante da História. Faz menção à sincronia (estudo da língua num determinado momento da fala) e à diacronia (estudo da língua através do tempo histórico). O português teve origem no latim, antiga língua falada no Lácio, região central da Península Itálica. Infelizmente não do latim clássico, falado pelos grandes escritores romanos e latinos, e sim do latim popular falado pelas tropas invasoras, surgindo assim, dialetos chamados de Romances ou Romanços. Com a queda do Império Romano, os Romanços deram origem às línguas neolatinas ou românicas: italiano, francês, provençal, espanhol, português, dentre outras. O marco da evolução histórica do português se faz quando da elaboração da primeira gramática do português (Gramática da Linguagem Portuguesa) de Fernão de Oliveira, em 1536.
Antes de entrar no Acordo propriamente dito, há duas páginas que pincelam a vertente da evolução da ortografia, quando a preocupação inicial era com a pronúncia da palavra. O Renascimento trouxe mais uma nova influência para a evolução do português. É dessa época as palavras escritas com rh, th e ph, influenciadas pela grafia do latim, o que dificultou a grafia de muitas palavras.
O autor faz uma explanação rápida e muito feliz acerca da função sociocultural de uma língua, evidenciando a língua como fator principal para a difusão da cultura, seja no âmbito da ciência, da educação, da literatura, da religião etc. O valor maior vem por meio da língua escrita, que expande o conhecimento e a informação através dos meios de comunicação, tais como jornais, revistas, cartazes, leis e livros. Obviamente que haverá algumas diferenças na maneira de se escrever, sejam elas de cunho regional, individual ou profissional. Porém, a escrita deve ser única, ou seja, a palavra deve ter a mesma grafia dicionarizada. A ortografia do português é essencialmente fonológica, conservando vestígios etimológicos. Para exemplificar a veracidade do que está sendo dito toma-se a nível de ilustração o termo "duas grafias". Isso não significa dizer que no Brasil pode-se escrever fêmur/fémur. Esse Acordo vem ratificar que cada país continuará escrevendo tal palavra da mesma forma que está sendo escrita na atualidade, isto é, falando-se em português do Brasil escreve-se fêmur, e em português de Portugal fémur. Outro adentro que muito se comenta são as palavras que perderam o trema. O acento que marca a tonicidade da sílaba caiu, porém a forma fonológica das palavras que fazem uso desse acento continuará valendo. Haja vista a grande vedete desse Acordo, que é a supressão do trema em palavras portuguesas ou aportuguesadas: linguiça, tranquilo, delinquir, cuja pronúncia nada sofrerá, para a satisfação dos brasileiros.
A idéia de unificação da ortografia praticada no Brasil e em Portugal teve amadurecimento a partir do foneticista português Gonçalves Viana, devido ao seu trabalho histórico da ortografia portuguesa ao longo do século XX. O entendimento entre os dois países se deu no início de 1924, terminando em 1931 com a adoção pelo Brasil da ortografia simplificada de Gonçalves Viana. Atualmente a norma que o Brasil segue é a do Acordo de 1945, e somente em 1971 que foram incorporadas algumas alterações propostas naquela data. Os novos entendimentos aconteceram em 1990, e formalizados em agosto de 2004. Notam-se semelhanças existentes entre as ortografias portuguesa e brasileira, mesmo não havendo uniformidade entre elas, haja vista que cada país tem as suas próprias normas. Os países envolvidos no Acordo sabem da importância que tem uma ortografia comum, e que favorece o prestígio internacional, e acaba com as dificuldades de caráter lingüístico, político e pedagógico.
O novo Acordo Ortográfico é divido em 21 bases, iniciando-se pelo alfabeto e pela grafia de nomes próprios estrangeiros, passando pelo uso do h, ditongos, acentuação gráfica, uso do trema e do hífen, chegando à divisão silábica e culminando na grafia de assinaturas e firmas, dentre outras.
O alfabeto teve o acréscimo de mais três letras, k, w, y, passando de vinte e três para vinte e seis letras. Os leitores brasileiros sentirão falta do acento em palavras tão comuns do vocabulário do dia-a-dia, pois os ditongos abertos éi, eu, oi, somente incidirão acento agudo em final de sílaba ou em palavras proparoxítonas, não mais em outras posições dentro da palavra, como é o caso de teteia, jiboia, heroico, estreia, paranoico. Outra novidade é a não sinalização do acento circunflexo nas palavras paroxítonas terminadas em oo (hiato): enjoo, voo, assim como não se acentuam mais as palavras homógrafas: para (verbo), para (preposição), pelo (verbo), pelo (substantivo). O acento também caiu para as palavras paroxítonas cujas vogais tônicas i e u são precedidas de ditongo decrescente: feiura, baiuca.
A regra também mudou para as 3as pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler, ver e seus derivados: creem, deem, leem, veem, releem. Nota-se, no entanto, que os verbos ter, manter, reter conservam o acento: têm, mantêm, retêm.
Para aqueles já acostumados a escrever certas palavras sem hífen haverá a necessidade de readaptação, pois as palavras compostas que têm o primeiro elemento bem ou mal e o segundo começar por vogal ou h obrigatoriamente deverão ter hífen: bem-humorado, mal-habituado, mal-estar.
O novo Acordo Ortográfico escrito e organizado por Azeredo traz exemplos vivos dessa mudança, mostrando ao leitor tudo que aconteceu antes e depois de 1990, e o presenteando um quadros comparativos, auto-explicativos que conseguem dissipar qualquer dúvida que o mesmo possa vir a ter. Esse livro funciona como um professor de bolso, esclarecer e pronto para ser consultado a qualquer momento, quando se julgar necessário.

Nenhum comentário: